Capítulo 0188
Dizer aquilo em voz alta foi um grande alívio, tanto que sentiu que o seu corpo havia ficado até mais leve.
Naquele momento, não se importava com mais nada, havia ligado o ventilador, só faltava jogar a merda toda em cima.
Enquanto estava aliviada, via Ethan com a expressão surpresa, com certeza ele não esperava por aquela resposta.
Na cabeça dele, acreditava que, por Tácio a abandonar após o nascimento da filha, ele também estava fugindo da obrigação e responsabilidades de ser o pai da criança.
Ela queria dizer mais coisas, mas estava esperando que ele lhe perguntasse mais alguma coisa. Queria que tudo fosse revelado mediante os pedidos de Ethan, já que da outra vez que queria se explicar por conta própria, foi rejeitada.
Antes de questioná–la, viu–a se mexer, procurando algo no bolso da saia.
Ao ver a expressão de preocupação em seu rosto, notou que era alguma coisa importante.
Preciso atender
Disse, saindo dali.
Rafa abriu a porta do escritório rapidamente e atendeu o telefone.
Não era do seu feitio atender ligações pessoais no trabalho, ainda mais na frente do seu chefe, mas quando viu na tela o nome de Marta, a babá de Ava, sabia que devia abrir a exceção.
Marta, aconteceu alguma coisa com a minha filha?
―
Perguntou preocupada.
Ainda bem que atendeu rapidamente, acabei de chegar com a Ava no hospital, ela não parece nada bem confessou.
O que está acontecendo?
– A febre está aumentando, mesmo com o remédio. Ela estava chorona e inquieta, mas agora está muito mole e sonolenta, estou com medo de deixá–la assim, por favor, venha até o hospital.
Estou indo agora mesmo.
Já estava pegando seus pertences em sua mesa, quando se lembrou de Ethan.
Sem bater na porta de seu escritório, entrou novamente, chamando a sua atenção.
Aconteceu alguma coisa?
Perguntou ele.
A Ava está no hospital, pode me levar até lá?
Mesmo que estivesse cheio de coisas para fazer, apenas se levantou, assentindo.
Em menos de vinte minutos, os dois chegaram ao hospital.
Rafaela procurou por Marta, a encontrando na sala de observação
acompanhando Ava.
Como ela está? se aproximou da filha.
O médico acabou de examiná–la e disse que ela está com otite.
Otite?
perguntou confusa.
Sim, ela vai ficar em observação até a febre baixar.
Será que entrou água no ouvido dela?
Bem provável, já que você diz que costuma tomar banho com ela no chuveiro.
Mas tenho tanto cuidado.
Eu sei, Rafa, mas às vezes, até com o cuidado, as coisas acontecem Não se preocupe, o médico disse que não é grave.
Fico aliviada.
explicou.
Eu devia ter te ligado mais tarde, após ouvir o que o médico tinha a dizer, mas acabei ficando preocupada.
Você fez bem, Marta
elogiou sua postura.
Mesmo assim, não devia ter te ligado para te tirar do trabalho.
Você ligou na hora certa, pode acreditar
explicou. Vou ali fora rapidinho,
e já volto para ficar com vocês.
Olha, não precisa. Posso ficar aqui até ela ser liberada.
Assentindo, deu um beijo na filha, que dormia, parecendo estar se sentindo melhor.
Ao sair do quarto, deu de cara com Ethan, que a esperava do lado de fora dò corredor. O rosto dele estava inexpressivo, mas sentia que ele já estava com as peças de um quebra–cabeça em sua mente.
Como ela está?
perguntou.
A febre está baixando, o médico disse ser otite.
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Ela vai ficar bem?
Sim, já está sendo medicada
explicou.
Tentando andar para sair daquele corredor, foi interceptada por ele, que ficou
imóvel em sua frente.
O que está fazendo?
Creio que devemos conversar, não acha? – Perguntou, sério.
Parecia que já tinha montado grande parte do quebra–cabeça.
Vai querer mesmo conversar aqui, neste corredor?
Se referia ao fluxo de pessoas que passavam por ali, a todo o momento.
Tudo bem
respondeu, saindo de sua frente.
Ele começou a caminhar, fazendo com que ela apenas o acompanhasse.
Em busca de um lugar reservado para conversarem, os dois entraram na capela que havia ali. O lugar estava vazio, o que era bom para a conversa séria que teriam.
Ethan andou até o pequeno altar, onde havia um púlpito com a imagem de uma cruz no centro. Enquanto Rafaela se sentou no último banco, de cabeça baixa, próximo à porta.
Fiquei surpreso quando disse que o Tácio não era o pai da Ava
comentou.
Ouvindo a sua voz, levantou a cabeça e o observou, ali, em frente ao altar, atrás do pequeno púlpito.
Pela sua expressão assustadora, Ethan parecia um pastor, que estava prestes a dar o sermão sobre o juízo final.
Qual seria seu destino?
Céu, ou inferno?
Me diz, Rafaela. Quem é o pai da Ava?
Então aconteceu. O momento que ela tanto evitou havia chegado.
Seu coração estava acelerado e suas mãos suavam de tanto nervosismo. Poderia fazer rodeios e explicar um monte de coisa, mas percebeu haver uma palavra que explicaria tudo nitidamente.
Você
respondeu com a voz firme e clara, para que não o deixasse
questionar o que ela acabou de dizer.
Naquele momento, não conseguiu decifrar a expressão de Ethan.
O que ele estava sentindo?
Alegria?
Raiva?
Decepção?
Só houve silêncio.
E aquele silêncio foi pior do que todas as palavras que imaginava sair de sua boca.
Saindo de onde estava, ele começou a caminhar em sua direção.
Pensava que ele pararia ao seu lado e começaria a lhe ofender, mas Ethan simplesmente lhe lançou um olhar de reprovação e abriu a porta, saindo dali.
Tinha medo de o acompanhar, para saber o que aconteceria, mesmo sabendo que já era tarde demais para retroceder.
Não sabia o que significava aquele silêncio, nem o que se passava em sua cabeça.
Mas pelo olhar que lhe lançou ao sair, sabia que ele a odiava naquele momento.
Nem céu, nem inferno.
Ethan a havia lançado no Limbo.
[…]
Andando pelo corredor do hospital, Ethan entrou na sala de observação onde Ava
estava.
Quem é você?
Marta perguntou, confusa, ao ver o homem se aproximar da bebê e a pegar no colo, a abraçando.
―
Ei, eu perguntei: quem é você? disse mais uma vez, tentando se aproximar
dele e tirar Ava de seu colo.
Ela não conhecia Ethan e nem sabia nada sobre ele, tudo que queria naquele momento era tirar a criança do colo daquele estranho.
Solta–a
– pediu.
Mas acabou recebendo um olhar mortal vindo dele.
O que está acontecendo?
Uma enfermeira se aproximou, vendo a
inquietação da babá.
―
Quero que providencie um quarto reservado para ela descansar disse ele, sem tirar a criança de seu colo.
Como estavam na sala de observação, havia outras camas, com outros pacientes ali. 2
Mais uma vez, Marta interveio.
Ela só está em observação, não acho que precise…
Eu não te perguntei nada!
interrompeu a fala da mulher.
A sua voz era tenebrosa e sombria. 2
Iremos providenciar o que pediu
com a criança?
Sou o pai – respondeu.
―
disse a enfermeira.
―
Qual a sua relação
– Tudo bem, senhor, só um momento.
A enfermeira saiu dali, indo providenciar o pedido de Ethan.
Naquele momento, Marta não sabia onde enfiar a cara, por estar confusa demais.
Me desculpa – pediu.
Eu não sabia.
confessou.
A face de Ethan se suavizou um pouco, percebendo que a mulher não tinha culpa nenhuma do que estava acontecendo. 22
– Tudo bem, eu também não.