Capítulo 0150
Enquanto dirigia o carro em alta velocidade pela cidade, Ethan via, pelo retrovisor, o quanto Rafaela estava chorando.
Sentia-se culpado.
Após escutar tudo o que Charlotte lhe contou, não conseguia pensar em mais nada a não ser vingança. Seus nervos ficaram tão à flor da pele, que o único jeito que encontrou de esvaziar a sua raiva foi quebrando todo o seu escritório.
Mas daí, Rafaela apareceu e, sem perceber, acabou machucando-a, sem que ela tivesse culpa alguma.
Já não bastava o sentimento de culpa, o que mais lhe deixava perplexo era o sangue que escorria de suas pernas.
O que aquilo significava?
Ao chegar no hospital, já foi recebido por uma equipe médica que o aguardava com uma maça, para levá-la dali.
Enquanto era carregada para a sala de emergências, ele a acompanhava, na esperança de poder ajudar em algo.
O senhor não pode passar daqui.
Uma enfermeira disse, o interceptando para não adentrar na sala de emergência.
Como não? Preciso saber o que está acontecendo com ela! – Disse, nervoso.
Sinto muito, mas são ordens médicas.
– Ela tem direito a um acompanhante, não posso deixá-la sozinha! – respondeu alterado.
Um dos médicos que havia acompanhado Rafaela até a sala de emergência apareceu na porta e avistou Ethan.
Então disse.
– Deixe-o entrar imediatamente. Ordenou à enfermeira, que tentava interceptá-lo. Leve -o para a sala de preparação.
Não demorou nem cinco minutos e Ethan já estava pronto, vestido adequadamente com roupas próprias para acompanhar Rafaela na sala de cirurgia.
Até aquele momento, por conta da pressa e do desespero, não havia entendido o que estava acontecendo.
Estava preocupado demais para entender o que de tão grave havia acontecido com Rafaela, para estar numa sala de cirurgia.
Quando entrou na sala, ficou ao lado dela, que continuava chorando. Foi então que percebeu
ela havia trocado de roupa e estava com a barriga saliente exposta.
que
O que estava acontecendo ali?
Sua mente estava a mil, sem acreditar no que via.
-Ela está entrando em trabalho de parto, por favor papal, segure a mão dela bem firme, isso a fará se sentir mais segura. – O médico disse.
Trabalho de parto?
Papai?
Aquelas palavras o pegaram de um jeito que nem ele mesmo estava esperando. Foi aí que caiu a sua ficha e percebeu o que estava acontecendo.
Rafaela, você está grávida?
Sua voz saiu como um sussurro, que ninguém naquela sala conseguiu ouvir, já que todos estavam ocupados, com a cesárea de emergência que estava começando ali.
Mas ao olhar para ela, a pegou lhe encarando, com olhos desesperados.
Quer dizer, então, que sua secretária estava grávida e estava lhe escondendo? Isso explicava o porquê dela estar vestindo roupas largas.
Mas por que ela estava lhe escondendo?
Sabia que havia dito que não gostava de crianças, e talvez ela estivesse escondendo aquela situação, apenas com medo de acabar sendo mandada embora.
Mesmo assim, estava se sentindo enganado.
Sem pensar em muita coisa, apenas fez o que o médico pediu que fizesse. Segurou a mão de Rafaela, ficando próximo a ela.
Lembrou-se do que Tácio disse, sobre querer engravidá-la, e aquilo o deixou nervoso.
Sabia que não era a pessoa certa para estar ali, mas, como tudo aconteceu tão rapidamente, não conseguiu avisar a mais ninguém sobre o ocorrido.
Sinto muito pediu ela, sussurrando.
Ele percebeu quão desesperada Rafa parecia estar, e, por mais que estivesse se sentindo enganado, resolveu não dizer nada.
Aquele não era o momento.
-Não se preocupe, vai ficar tudo bem disse, lhe dando um beijo na testa.
Quando fez aquilo, percebeu o quão errado era. Mas já estava ali e não podia fazer mais nada.
Estando grávida ou não, a culpa dela estar ali naquele momento era dele. Foi ele que causou aquele acidente.
Ethan continuava segurando a mão dela, e prestava a atenção no que os médicos faziam.
Estar ali, numa sala de parto, segurando a mão de Rafaela, o fez sentir alguns gatilhos. Gatilhos esses, que ficaram mais fortes quando viu o pequeno bebê sendo retirado da barriga de Rafa e sendo levado às pressas para a UTI neonatal,
Ethan ficou paralisado, ao ver aquela cena.
Minha bebê Rafaela gritou, ao ver sua filha sendo levada, sem ao menos poder ver o seu
Os pulmões dela estão fracos, por se tratar de uma bebê prematura. Terá que respirar com a ajuda de alguns aparelhos. Se acalme, mamãe, precisamos cuidar dela primeiro, antes que possa vê-la.
Uma enfermeira disse, limpando o suor do rosto de Rafa e tentando acalmá-la.
Enquanto a enfermeira explicava de um modo compreensível o que estava acontecendo para Rafaela, Ethan continuava paralisado.
Após haver acabado de fazer os procedimentos nela, levaram-na para a sala de pós-parto, então ele resolveu sair dall sem dizer coisa alguma.
Sua ação assustou Rafa, mas ela estava tão mais preocupada com o que estava acontecendo com a sua filha, que ignorou o que o seu chefe estava pensando.
Ethan saiu dali nervoso. Suas mãos tremiam e seu coração batia forte, parecendo estar em sua garganta.
Em sua mente, a imagem da bebê sendo carregada pelos médicos se repetia várias vezes. Sem pensar muito em nada, apenas andou até a UTI neonatal, atrás da bebê.
Enquanto andava pelo corredor do hospital, encontrou novamente o médico que o deixou entrar na sala de parto.
– Onde está ela? – perguntou ao médico.
Ela está em observação, os primeiros minutos são os mais importantes.
Quero vê-la pediu.
-Não posso deixar que a veja agora.
Você não me entendeu? – Segurou o colarinho da camisa do médico. – Quero vê-la- – seus olhos estavam vermelhos.
O médico viu o olhar desesperado de Ethan e notou que havia algo mais afundo.
Sabia que já havia visto aquele olhar uma vez, há alguns anos, mas percebeu que Ethan estava tão nervoso, que parecia não se recordar.
Venha comigo disse ele.
A pedido do médico, fez toda a higiene, trocando a máscara e touca que usava e calçou luvas. Após isso, Ethan entrou num pequeno quarto, onde havia uma incubadora com um minúsculo bebé dentro.
A pequena bebê estava apenas de fralda, coberta por aparelhos. Sua barriguinha subia e descia freneticamente.
Ethan se aproximou lentamente, observando o seu pequeno corpinho frágil.
Não sabia o porquê estava ali, mas não queria se afastar daquela pequena criaturinha indefesa de modo algum.
Provavelmente ela ficará aqui por um tempo, mas será muito bem cuidada, não se preocupe disse o médico.
Ela vai ficar bem? – perguntou preocupado,
Vai, sim. Ela é uma garotinha forte.
Em todo o momento, o médico pareceu bem cordial e compreensível, deixando que Ethan ficasse ali, por alguns minutos, a observando.
Se aproximando mais um pouco, Ethan colocou a mão sobre o pequeno buraco que havia no vidro e tocou sua mãozinha, que ao sentir o toque, agarrou o seu dedo.
Suas mãos eram tão pequenas, que nem conseguiam fazer a volta em torno de seu dedo,
Aquele gesto foi o suficiente para Ethan se lembrar de tudo o que aconteceu no passado,
Sem se preocupar com mais nada, apenas caiu no choro, lembrando de seu filho, que não teve a mesma oportunidade de nascer.
Ao ver aquela cena, o médico que o acompanhava se aproximou dele, tocando o seu ombro. – Sei que não se lembra de mim, mas eu estava lá, quando você se despediu do seu bebê.